CARROS & ECONOMIA
POR: FRANCISCO MENDES
2024 encerrou com taxa de desemprego no menor patamar histórico, aumento da massa salarial, PIB crescendo acima de 3%, bem acima das projeções de mercado, vendas de automóveis e comerciais leves crescendo mais de 14% em relação a 2023 e, mesmo assim, tanto Anfavea quanto Fenabrave divulgaram projeções conservadoras para 2025, com expectativa de crescimento entre 4 e 6% sobre o ano anterior.
Afinal, o que assusta tanto estes agentes?
Um aspecto que precisa ser lembrado é uma frase que sempre é colocada nos panfletos de investimentos: “o resultado passado não garante o resultado futuro”.
Apesar de uma série de indicadores econômicos positivos, o desequilíbrio fiscal resultante da expansão de gastos do governo, especialmente o federal, gera constante aumento do endividamento do setor público, é fator de incremento na inflação e coloca pressão sobre a política monetária, tornando o cenário futuro bem mais incerto.
Inflação em descontrole, afastando-se da meta estabelecida, força o Banco Central a elevar a taxa básica de juros e taxas altas e venda de veículos não é uma equação fácil para equilibrar.
Quanto maior a incerteza, maior o nível de risco e maior a taxa de juros, tornando os agentes financeiros muito mais conservadores na concessão de crédito, peça fundamental na equação de venda de veículos.
Pelo lado do investimento, torna mais oneroso o carregamento de estoques, consumindo maior parcela da lucratividade das operações.
2025 será um ano de cautela, de controle rigoroso sobre estoques, parcimônia na concessão de crédito com recursos próprios e atenção especial a despesas, também estas pressionadas pela inflação.
Não devem ser esperados volumes significativamente diferentes dos vistos em 2024, mas a lucratividade e consequente rentabilidade, estará bem mais pressionada.
Entre as categorias, comerciais leves vem tendo desempenho melhor que o de Automóveis. Se olharmos a série histórica em volumes acumulados em 12 meses, os comerciais leves encontram-se 34% acima do volume de 2019, enquanto o de automóveis, está 14% abaixo.

Fonte: Anfavea
Este comportamento se deve, no lado dos comerciais leves, ao desempenho das pick-ups, puxadas pelos sucessivos incrementos do agronegócio nos últimos cinco anos e, do lado dos automóveis, pelo alijamento de parte importante dos consumidores do mercado de veículos novos, nos segmentos de entrada.
A competição pelo consumidor será bem mais acirrada, com novos entrantes, leia-se marcas chinesas, aumentando suas redes e participação de mercado, em especial com modelos híbridos e elétricos e elevado nível de tecnologia embarcada, fazendo com que o consumidor abandone a percepção antes existente que colocava em dúvida a qualidade dos produtos.
Como dizem, o Brasil não é para amadores e 2025 será um ano para testar a resiliência e os corações dos concessionários.
Francisco Mendes, economista, pós-graduado em Finanças e Controladoria (FAAP, FEA/USP), atua no setor de distribuição automotiva desde 1987, sendo que desde 1991 é consultor especializado na área. Como palestrante, participou em diferentes edições do Congresso Fenabrave e em eventos internacionais nos Estados Unidos, China, Coreia, Itália e Argentina.
Este material divulgado pela ABRAJEEP Press busca proporcionar diferentes perspectivas e informações relevantes aos executivos da Rede. As opiniões expressas são de exclusiva responsabilidade do autor convidado e não refletem, necessariamente, a posição oficial da Associação. |