CONJUNTURA ECONÔMICA
POR: JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS
O IBGE divulgou os dados finais do PIB: a economia brasileira teve crescimento de 3,4% no ano passado.
Esse resultado foi marcado, essencialmente:
I. pelo consumo das famílias (4,8%), reflexo do mercado de trabalho mais dinâmico (a taxa média de desemprego, que encerrou 2023 em 7,8%, recuou para 6,6% em 2024), do maior acesso ao crédito à pessoa física (9,8%) e das transferências de renda;
II. pela alta dos investimentos (7,3%), devido aos aumentos da produção interna e da importação de bens de capital, à expansão da construção e do Desenvolvimento de Software, além da queda da taxa Selic nos primeiros três trimestres do ano;
III. pelo impulso fiscal; e
IV. pela queda da agropecuária (-3,2%), resultado dos efeitos climáticos adversos que impactaram várias culturas importantes.
E como tem se comportado a economia brasileira neste início de 2025?
O Brasil teve uma folga no primeiro bimestre, que pode ser medida por alguns dados. A relação Dívida/PIB, que havia alcançado os 77,8% em outubro de 2024, foi recuando mês a mês até chegar em 75,3% em janeiro deste ano, decorrente da forte arrecadação, da redução do impulso fiscal no segundo semestre de 2024, da queda das reservas internacionais e de um PIB nominal mais elevado. A inflação de janeiro também foi positiva, em virtude do bônus de Itaipu, que reduziu o custo da energia elétrica. Finalmente, o preço do dólar, que iniciou janeiro a mais de R$ 6,00, chegou a cair abaixo de R$ 5,70 em março, mais relacionado com questões atinentes à economia americana (o vaivém na política tarifária de Donald Trump e dados fracos de atividade, por exemplo) do que com a força do real.
Mas essa realidade mais favorável deve ter ficado concentrada apenas neste início de ano…
Isso porque, se observado outro conjunto de dados, já podemos constatar sinais incipientes de que a economia brasileira está em processo de desaceleração. Vejamos:
Desde o final de 2024, os dados dessazonalizados de desemprego (medido pela Pnad Contínua) e do CAGED mostram, se não alguma perda de fôlego do mercado de trabalho, ao menos sinais ambíguos que devem ser acompanhados com atenção.
Por sua vez, a média dos índices de confiança da FGV, que considera as sondagens da indústria, do comércio, dos serviços, da construção e do consumidor, registrou declínios sucessivos de dezembro a fevereiro e ficou estável em março.
Mensalmente o Banco Central divulga o IBC-Br, índice que acompanha a atividade pelo lado da oferta, considerando os setores de indústria, serviços, comércio e agropecuária. Apesar de o Banco Central não divulgar as aberturas do indicador, os dados das pesquisas do IBGE sugerem que o resultado de janeiro foi puxado pela agropecuária, uma vez que os demais setores tiveram fraco desempenho no período: a indústria registrou variação nula, as vendas no varejo recuaram 0,1% e o setor de serviços encolheu 0,2%.
Esses sinais incipientes ainda não caracterizam uma virada imediata na atividade, mas sinalizam com mais precisão que este ano terá crescimento menor do que o ano passado. Além disso, podem ser adicionadas as incertezas geradas pelo governo americano na economia global.
Por outro lado, como contraponto a esse cenário de desaceleração, há o novo consignado privado sobre o crédito, cujos efeitos ainda não sabemos.
E quais são as implicações desse cenário para o concessionário?
Recentemente, a ANEF (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras) divulgou que 46% das vendas de veículos e comerciais leves em 2024 aconteceram por meio de financiamento, 6 p.p. acima da proporção de 2023, portanto parcela relevante das vendas.
Fator crucial para esse aumento está relacionado aos cortes da taxa Selic em 2024, que iniciou o ano em 11,75% e foi reduzida até 10,50% em julho, diminuindo o custo com juros para os consumidores. Foi a partir de setembro de 2024 que o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar a taxa Selic. Até a mais recente reunião, realizada em março, a taxa subiu 3,75 p.p., para 14,25%, e vai ainda ficar em torno de 15,00%, com alguma perspectiva de redução no segundo semestre, considerando a concretização do cenário de desaceleração da economia supracitado.
Nesse sentido, não é inapropriada a avaliação de que o aperto da política monetária encarecerá o crédito, mas vale ressaltar que o maior aperto virá das empresas mais alavancadas e menos nas famílias, pois o balanço destas ainda está forte, o que significa que a evolução será suave ao longo do ano.
José Roberto Mendonça de Barros é economista, sócio fundador da MB Associados e articulista do O Estado de S. Paulo. Foi Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1995-1998) e professor da USP (1967-2002). Atuou em diversos conselhos, recebeu o prêmio “Economista do Ano” (1998) e se destacou no setor financeiro e agronegócio.
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