O futuro da mobilidade urbana e as transformações que as novidades nesta área estão trazendo para os negócios estiveram no foco das discussões do Mobility Day 2018, realizado em 24 de agosto, pela StartSe. Durante todo o dia, gestores de empresas que se dedicam ao desenvolvimento de novas soluções tecnológicas para o transporte revezaram-se no palco do Pro Magno Centro de Eventos, em São Paulo, abordando temas como eletrificação e compartilhamento de veículos, uso de bicicletas e patinetes, serviços de socorro para automóveis, gestão de frotas, entre outros.
Na plateia, profissionais de diferentes áreas acompanharam atentos as apresentações para entender como potencializar suas decisões e investimentos com base nesse novo cenário. Também tiveram a oportunidade de conhecer, no espaço Startup Village, produtos e serviços como o SoluCX (software de gestão da experiência do cliente), Cadê Guincho (plataforma para pedir autossocorro), Rout Easy (definição de roteiros inteligentes), Splitaxi (aplicativo para compartilhar vagas em táxis), CittaMobi (informações de transporte público), Loop, E-Moving e Yellow (compartilhamento de bicicletas) e Bungo (patinetes).
Carros sob demanda por aplicativos
Em sua apresentação no Mobility Day 2018, Davi Miyake, chefe de estratégia e planejamento e gerente geral da unidade de negócios de táxi da 99, destacou a desconexão entre a posse e o uso do transporte como forma de revolucionar a mobilidade e melhorar a sociedade. “Utilizar o nosso serviço é mais barato do que ter um carro, para quem mora a até 12 km do trabalho, considerando combustível, impostos e outros custos de manutenção do veículo. Além disso, agora qualquer pessoa com um smartphone e um GPS pode trabalhar como motorista de serviços por aplicativo”, defendeu. De acordo com Miyake, o objetivo da chinesa Didi Chuxing, que adquiriu a 99 em janeiro deste ano, é acelerar ainda mais seu processo de crescimento no Brasil, trazendo novidades e respeitando a cultura local. “Um dos fatores que vai estimular a disruptura da posse do carro é a eletrificação. Na China, o custo de rodagem dos veículos movidos a combustível é de US$ 0,21/km, enquanto o dos elétricos fica em US$ 0,13/km”, relatou. Com mais de 260 mil veículos elétricos rodando naquele país, a empresa também desenvolveu uma Plataforma de Carregamento Inteligente, para suportar esse ecossistema. Outro serviço da Didi envolve parcerias com governos para monitoramento de dados da cidade em tempo real, buscando promover melhorias na mobilidade. Na China, conforme Miyake, a empresa realiza um trabalho conjunto com mais de 10 cidades e já contribuiu para a otimização de 1.200 semáforos, aliviando a carga do trânsito entre 10% e 20% nesses pontos. “A revolução da mobilidade urbana é real. Já está acontecendo”, alertou.
Atendimento digital
A experiência do cliente foi o tema abordado por Fábio Marão, gerente de marketing interativo e e-commerce da Azul, no Mobility Day 2018. Para alcançar um desempenho mais favorável no atendimento digital, ele contou que a companhia aérea passou a avaliar a situação do serviço, tendo como base a percepção real dos consumidores e não mais a dos executivos, como era no modelo tradicional. “A partir dos comentários dos clientes nas redes sociais, elaboramos um mapa de sua experiência e mostramos o que estava acontecendo para todos os funcionários, de forma que estivessem alinhados para enxergar os problemas e as oportunidades”, explicou.
Como resultado, segundo Marão, a Azul conseguiu melhorar o atendimento digital dos clientes, transferindo boa parte dos check-ins para aparelhos móveis, por meio de seu aplicativo, e alcançando 77% de menções positivas sobre o uso desse serviço. “Passamos a classificar as novas ideias com foco no seu valor para o negócio e para os usuários. E buscamos tornar a experiência dos clientes mais agradável para que seja o principal fator de escolha da empresa”, complementou.
Centros de mobilidade
Herbert Viana, diretor de marketing da Localiza, destacou como a maior locadora de automóveis da América Latina está direcionando seus negócios para ser uma provedora de diferentes serviços que envolvem mobilidade. “Como um centro de mobilidade, nosso objetivo é fornecer o carro para conectar o consumidor a todas as possibilidades, desde a posse até somente o uso, promovendo economia e eficiência energética”, afirmou, durante o Mobility Day 2018, lembrando que a empresa já atua também na venda de veículos usados e na gestão de frotas.
Com esse avanço das locadoras em serviços de mobilidade, segundo Viana, elas tendem a se consolidar como as principais compradoras de automóveis do mercado brasileiro. “Precisamos acompanhar a mudança do perfil do consumidor, diante do maior número de alternativas que estão sendo oferecidas para sua locomoção. Hoje, o que determina a escolha do tipo de condução que cada um irá utilizar é o momento e o objetivo do deslocamento, podendo optar por carro próprio ou alugado, veículo solicitado por aplicativo, transporte público, avião, bicicleta, de acordo com sua necessidade”, avaliou.
Mais qualidade para usados
Outra mudança de comportamento dos consumidores vem ocorrendo em relação à compra de veículos seminovos, conforme ressaltou Maurício Feldman, CEO da Volanty, que atua na comercialização desses produtos. “Antes havia uma preferência pela aquisição de carros novos, apesar de seu custo ser maior, pois as pessoas tinham medo de comprar um usado em más condições e ter mais problemas. Por isso, trabalhamos muito para reduzir essa diferença de qualidade e agora os clientes já se sentem mais seguros em optar por um usado, gastando menos”, argumentou.
Nos processos de decisão de compra acompanhados pela Volanty, segundo Feldman, os consumidores buscam um carro devido à uma mudança de vida, como a chegada de um filho; para elevar o status, fator ainda importante no Brasil; e para utilização no trabalho. “Estamos vendendo muitos veículos para quem deseja trabalhar como motorista de serviços de transporte por aplicativos”, observou.
Gestão de frotas e estacionamentos
Na área de administração de frotas, Marcos Valillo, diretor de parcerias e projetos da Pointer Cielo, mostrou como os serviços da empresa israelense vêm evoluindo com o uso de tecnologias que possibilitam realizar a gestão do combustível, telemetria, monitoramento de temperatura da carga e controle de velocidade dos veículos. “Mapeamos bem os segmentos de nossos clientes, como alimentos e bebidas, óleo e gás, construção, e procuramos desenvolver soluções customizadas para suas necessidades, além de estratégias pensadas para a cidade como um todo”, declarou no Mobility Day 2018.
Também os estacionamentos estão se adaptando para atender as novas necessidades relacionadas à mobilidade. A reserva de vagas e o pagamento por meio de dispositivos móveis, além da destinação de espaços para a recarga de veículos elétricos, estão entre as novidades que movimentam esse segmento para gerar maior comodidade aos clientes, conforme André Iasi, presidente da Estapar.
Patinetes elétricos
Finalizando as apresentações do Mobility Day 2018, a Spin mostrou como seu negócio de compartilhamento de patinetes elétricos, criado em 2016, vem progredindo nos Estados Unidos. Segundo Cameron Mullen, especialista da empresa em mobilidade, o usuário encontra o equipamento e faz todas as operações relacionadas ao seu uso pelo celular, podendo deixá-lo em qualquer ponto da cidade, depois de utilizá-lo somente no trecho em que necessita.
“Esse tipo de veículo está ganhando a preferência do público em trechos entre o metrô e a residência ou para ir a um restaurante próximo e também dentro das universidades. Com um preço mais acessível, leva a pessoa até a porta do seu destino final, o que o transporte público não faz. Além disso, os usuários dizem que os patinetes são mais fáceis e agradáveis de pilotar do que uma bicicleta e não demandam esforço físico, pois são elétricos”, descreve Mullen, acrescentando que eles percorrem um quilômetro em quatro minutos.
De acordo com Mullen, para a implantação do serviço nas cidades, a Spin desenvolve parcerias com as prefeituras, adaptando seus serviços às regras locais, como uso de capacete, deslocamentos sobre a calçada, limite de velocidade, entre outras. “Nosso foco é reduzir a dependência das cidades dos carros e estamos ansiosos para iniciar uma expansão internacional”, concluiu.