Estudos do mercado automobilístico apontam que até 2024, as principais montadoras e concorrentes da Stellantis terão um ou mais veículos elétricos em seus line-ups. Em 2021, o número de carros elétricos emplacados na Europa superou a quantidade de veículos a diesel. No cenário mundial fala-se que até 2040, os veículos elétricos passarão a representar 55% das novas vendas. O fato é que as soluções de mobilidade mais sustentáveis vêm tornando-se uma realidade, especialmente com a popularização e a crescente preocupação das empresas em enquadrar suas operações nas metas ambientais e de ESG.
Especificamente no Brasil, o mercado de veículos elétricos deve seguir em crescimento, especialmente por três fatores: legislação, a competitividade de mercado e a matriz energética. Seguindo a tendência, a Jeep acaba de lançar no mercado brasileiro, o Compass 4xe, o primeiro Jeep® eletrificado do País com a tecnologia híbrido plug-in (PHEV).
De acordo com a ABVE – Associação Brasileira do Veículo Elétrico, as vendas de veículos eletrificados leves no Brasil cresceram 115% no primeiro trimestre de 2022, chegando a 9.844 unidades, contra 4.582 no mesmo período de 2021.
Os veículos elétricos e híbridos seguem uma tendência inversa a do mercado total de vendas domésticas de automóveis e comerciais leves, que caiu 25% na comparação entre os primeiros trimestres de 2022 e 2021 (374.533, contra 497.812, segundo a Fenabrave).
Os 3.851 emplacamentos de eletrificados do mês de março de 2022 representam aumento de 106% sobre março do ano anterior (1.872) e de 12% sobre fevereiro de 2022 (3.435). Março foi também o terceiro melhor mês da série histórica, só superado por dezembro e agosto de 2021 respectivamente, 4.545 e 3.873 emplacamentos.
Ainda há um longo caminho a percorrer e muitos desafios pela frente, mas o desempenho do primeiro trimestre confirma o bom momento da eletromobilidade no Brasil, que entra no terceiro ano seguido de sólido crescimento, em contraste com a queda nas vendas domésticas totais. O mercado de veículos elétricos no Brasil tende a crescer nos próximos anos, primeiro, motivado pelas iniciativas de algumas marcas, um movimento que deve se intensificar no futuro por questões legislativas relacionadas a limitação de emissões de poluentes, a diminuição dos impostos e a crescente competitividade mundial em relação à tecnologia.
A frota total de eletrificados leves no Brasil é de 86.986 veículos (janeiro de 2012 a março de 2022). Mantendo-se a tendência atual, a frota eletrificada poderá chegar a 100 mil veículos já no final deste semestre. Estes números representam a soma das vendas de automóveis, utilitários, SUVs e comerciais leves eletrificados, incluindo elétricos híbridos (HEV), híbridos plug-in (PHEV) e totalmente elétricos (BEV).
Uma verdadeira ‘sopa de letras’ que cada vez mais vem sendo frequente no mercado automotivo, mas que ainda gera muitas dúvidas em seus significados e no próprio funcionamento de cada tecnologia.
O Professor Fábio Delatore, do curso de Engenharia Elétrica da FEI – Faculdade de Engenharia Industrial e um especialista no mercado e nas tecnologias de veículos elétricos, esclarece que a eletrificação na indústria automotiva começou por meio do sistema Start & Stop – que desliga o motor quando o carro para e o religa quando o motorista pressiona a embreagem ou tira o pé do pedal do freio (nos carros automáticos). “Se pudéssemos pontuar a primeira aplicação de hibridização seria na concepção que chamamos de híbrido micro (mycro hybrid) – apesar desta termologia não ser popularmente utilizada. De uma maneira bastante simplista, todo o acoplamento do veículo híbrido acontece na transmissão do carro. Em um local da transmissão agregamos o motor elétrico que precisará da energia que será a fonte da bateria. O híbrido micro possui um motor de menor capacidade e bateria de 12v, que faz a função de ligar e desligar o carro, quando ele está parado”.
Já no híbrido médio (mild hybrid) retira-se um alternador e utiliza-se o dispositivo ISG, oferecendo as condições ideais para a performance que o carro demandará. “Em uma ultrapassagem, por exemplo, o motor elétrico entrará junto com o motor a combustão para atingir de 13kw chegando a 20kw de potência adicional, oferecendo uma performance diferenciada. No híbrido médio a primeira significativa mudança está na troca do sistema de 12v para 48v (da bateria principal). Talvez dentro do cenário de eletrificação esta não seja a melhor opção já que é uma mudança que traz um considerável ganho de consumo de combustível, por outro lado, são soluções relativamente simples de serem implementadas com alguns softwares ou gerenciamento que não agregam um valor significativo ao veículo”, esclarece o professor.
O terceiro estágio de eletrificação é o híbrido full em que a tração pode ser unicamente elétrica, a combustão ou combinada. Neste caso, exige-se mais mudanças nos carros. Mecanicamente é preciso avaliar onde o motor elétrico será instalado. “É preciso agregar o motor elétrico de maneira diferente porque a potência é muito mais expressiva de 60kw a100kw (contra 13kw a 20kw do híbrido médio), exige-se também mudança de local onde a bateria irá ficar, já que o volume é mais significativo, dentre outras alterações que se façam necessárias. A maior contribuição de tudo isso é que o veículo até uma certa velocidade consegue ser 100% elétrico. Dentro das opções híbrido full há o plug-in que possui um motor a combustão e um motor elétrico alimentado por uma bateria de alta tensão que pode ser recarregada na rede elétrica, por isso, o nome plug-in”.
Fábio esclarece que na essência, a tecnologia para a eletrificação dos carros não é complexa, mas claro, demanda especialização. “Assim como foi necessário investimentos em treinamento, capacitação e novas ferramentas quando a injeção eletrônica adentrou na indústria automotiva, agora despontamos para um novo cenário que está exigindo novos investimentos e capacitação. É uma realidade no mercado automotivo brasileiro, mas precisar o tempo que irá se desenvolver não há como, pois são muitas variáveis envolvidas”, conclui.
AS TECNOLOGIAS
HEV (Hybrid Electric Vehicle – Veículos Híbridos Elétricos): contam com dois sistemas de propulsão complementares (combustão + elétrico). Não são carregados na rede elétrica, mas por meio dos freios regenerativos e do motor a combustão. Lembrando que as variantes dos híbridos são micro hybrid, mild hybrid e full hybrid (série, paralelo ou misto).
PHEV (Plug-in Hybrid Electric Vehicle – Veículos Híbridos Elétricos Plug-in): podem ser recarregados na rede elétrica e, portanto, possuem baterias com maiores autonomias em relação aos HEV.
BEV (Battery Electric Vehicle – Veículos Elétricos a Bateria): possuem propulsão exclusivamente elétrica e recarga na rede, com baterias de grande capacidade.
FCEV (Fuel-Cell Electric Vehicle – Veículos Elétricos a Célula de Combustível): não há bateria de alta capacidade, mas uma célula a combustível alimentada por hidrogênio (ou outro combustível como bioetanol tratado por um reformador), que gera energia para os motores elétricos com um único subproduto: água